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Sábado, 25 de julho

 

I º CONCERTO | Capela da Misericórdia, 11h00

 

Música do período Galante I

 

Diálogos entre a viola da gamba, o violoncelo e o cravo na segunda metade do século XVIII

 

Introdução comentada

Com fragmentos do Adágio da Sonata Nº1 em sol maior para viola da gamba e cravo, BWV1027, e de uma das peças para violoncelo solo de Johann Sebastian Bach (1685-1750)

 

Antoine Forqueray (1671-1745)

Suíte Nº1 para viola da gamba e Baixo Contínuo, Paris 1747

La Portugaise, transcrição para cravo solo por Jean-Baptiste Forqueray (1699-1782)

 

Georg Philipp Telemann (1681-1767)

Trio Nº2 em sol maior para viola da gamba, cravo e Baixo Contínuo, dos Essercizii Musici

Andante

Allegro

Largo

Presto

 

Johann Sebastian Bach (1685-1750)

Partita Nº4 em ré maior para cravo, BWV 828

Sarabanda

 

Carl Friedrich Abel (1723-1787)

Sonata Nº1 em mi menor para viola da gamba e Baixo Contínuo

Moderato

Adagio

Minuetto

 

Luigi Boccherini (1743-1805)

Sonata para violoncelo e Baixo em lá maior, G.4

Adagio

Allegro

Affettuoso

 

Jacques Duphly (1715-1789)

Chaconne para cravo solo

 

Carl Friedrich Abel (1723-1787)

Sonata em sol maior para cravo com acompanhamento de um violino ou flauta (viola da gamba) e de um violoncelo, Op.5 nº2

Allegro moderato

Tempo di Menuetto

 

CAMERATA DA COTOVIA

 

JACINTO MATEUS – CRAVO

JOSÉ MATEUS – VIOLA DA GAMBA

MIGUEL ROCHA – VIOLONCELO BARROCO

 

NOTAS DE PROGRAMA

 

Nos nossos dias, conseguimos claramente observar o percurso da civilização europeia ao longo da marcha implacável dos séculos. Mais ainda, conseguimos dividir claramente esse percurso em períodos mais ou menos longos, onde distinguimos mudanças, inicialmente subtis, provenientes de impulsos e necessidades interiores, espirituais, mas que conduzem progressivamente a grandes alterações dos paradigmas das sociedades. Assim, as múltiplas atividades das urbes passam a ser encaradas de forma substancialmente diferente, como por exemplo, a religião, a ciência, a filosofia, ou a arte, e em particular o que nos interessa neste texto, a música.

 

A História recente da Europa divide-se usualmente em grandes momentos, Períodos, que procuramos resumir nas próximas linhas: Medieval – termina c.1400; Renascença – c.1400 a c.1600; Barroco – c.1600 a c.1750; Clássico – c.1750 a c.1800; Romântico – c.1800 a c.1890; Modernismo – c.1890 a c.1950; Contemporâneo – c.1950 a Atualidade.

 

Como se pode verificar, todas as datas estão precedidas de circa, ou seja, “cerca”, e isto significa que nenhuma transição na História da Europa foi fruto de mudança brusca. As cores do prisma surgem-nos claramente separadas ao longe, no entanto, um olhar mais próximo indica-nos que na realidade elas se fundem e não conseguimos encontrar o ponto exato de separação. Assim são estas transformações nas sociedades. 

 

Falando do ponto de vista musical, podemos ir mais longe e encontrar períodos mais curtos na História, normalmente nas grandes transições, e que durante curtos espaços de tempo denotam características e estilos muito peculiares. E é um desses períodos que abordaremos em dois concertos do Festival, com obras do estilo Galante ou Rococó, e que marca a transição do Barroco para o Classicismo.

 

Este estilo surge por volta de 1740, sendo cultivado essencialmente, por compositores nascidos no início do século e vai atingir o ponto culminante na década de 1770. O estilo galante surge sobretudo nos meios burgueses, como uma simplificação da linguagem musical, procurando-se então a clareza e a leveza da melodia em detrimento do contraponto e da complexidade harmónica que se atingira no barroco tardio. Escreviam-se melodias emotivas, dramáticas, simples mas ornamentadas, que pudessem tocar sobretudo o lado sentimental do ouvinte e não apenas o intelecto, complexo por natureza. Mas não se pense que isto significa que a música dessa época era mais simples ou ligeira do que a precedente. Não, apenas os conceitos e os interesses mudaram, procuravam-se outros ideais artísticos, que conduzirão ao aparecimento do período que designamos como Clássico. 

 

Foram numerosos os compositores representantes desse estilo Rococó. Neste primeiro concerto ouviremos obras de diversos compositores provenientes de vários países europeus, e como tal, de múltiplas sensibilidades dentro desse estilo. Três compositores alemães, os “grandes” J.S.Bach e G.P.Telemann, dois dos mais importantes compositores do século XVIII, e Carl Friedrich Abel, que, além de compositor, foi também um grande virtuose da viola; embora alemão, viveu alguns anos em Inglaterra.

 

São dois os representantes franceses neste concerto, Jacques Duphly, compositor e virtuose dos instrumentos de tecla, e Antoine Forqueray, o “diabo da viola”, como o descrevera Hubert le Blanc, em 1740. 

 

Ouviremos ainda música de Luigi Boccherini, compositor e violoncelista italiano que passou parte substancial da vida em Espanha. Teremos então, neste concerto, Les Basses Réunies, isto é, três dos principais instrumentos que asseguravam o Baixo Contínuo na época - o cravo, o violoncelo e a viola da gamba, que tocarão a solo ou em empolgantes diálogos galantes.

 

Pedro Rafael Costa, 2015

 

 

 

 

 

 

 

2 ºCONCERTO | Igreja Matriz de Castelo Novo, 15h00

 

Recital de Canto e Órgão

 

António Vivaldi (1678-1741)

Glória in excelsis Deo, RV 589

Dueto, Laudamus Te

Ária, Domine Deus

Ária, Qui sedes ad dexteram Patris

 

Dixit Dominus, RV 594

Dueto, Virgam virtutis tuae

 

Georg Friedrich Handel (1685-1759)

Messiah, HWV 56

Ária, He was despised and rejected

Ária, If God be for us

 

Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736)

Stabat Mater dolorosa

 

ARIANA MOUTINHO RUSSO – SOPRANO

RITA MORÃO TAVARES – ALTO

SÉRGIO SILVA – ÓRGÃO POSITIVO

 

 

NOTAS DE PROGRAMA

 

Ao longo dos séculos, na já longa História da Música europeia, contam-se milhares de obras, escritas nas várias épocas e nos diversos países do nosso continente. Muitos foram os compositores de topo, tão bem conhecidos nos nossos dias, que nos legaram obras de inestimável valor, ícones da nossa civilização.

 

Alguns compositores, contudo, viveram curtas vidas, deixando-nos uma obra “incompleta” que nos faz apenas adivinhar no que se tornariam, se os senhores do 

Reino do Tártaro, não os tivessem resgatado deste mundo de forma tão prematura.

 

Citamos apenas alguns desses génios - Henry Purcell, Wolfgang Amadeus Mozart, Franz Schubert ou Félix Mendelssohn, músicos que partiram entre os 30 e 40 anos de idade.

 

Neste recital, ouviremos uma obra de um compositor do género, que embora não tão conhecido como os citados anteriormente, pelo menos no que respeita ao total da sua obra, é o autor de uma peça que atravessou o seu tempo, estando entre as obras que mais publicações tiveram e que mais influenciaram a criação musical no seu género, na passagem dos séculos. Referimo-nos a Giovanni Battista Pergolesi e ao seu sublime Stabat Mater.

 

Nascido em 1710 na localidade italiana de Jesi, então como Giovanni Battista Draghi, passa mais tarde a ser conhecido como Pergolesi, devido às origens da sua família, que se situavam em Pergole, localidade também situada na Península Itálica. Em 1733 escreve o Intermezzo La Serva Padrona, obra que se tornaria 

numa das mais influentes óperas cómicas do século XVIII, saída da pluma de um jovem compositor com apenas 23 anos de idade, a quem se adivinhava já um futuro fulgurante, que contudo, seria interrompido de forma prematura pela sua morte, ocorrida três anos mais tarde. No início desse fatídico ano, já acometido por uma tuberculose e retirando-se para o mosteiro franciscano de Pozzuoli, escreve ainda, nos últimos dias de vida, o seu sublime e dramático Stabat Mater. 

 

A obra terá sido encomendada pelos Cavallieri della Vergine dei dolori della Confraternità di San Luigi al Palazzo, confraria religiosa que organizava anualmente uma meditação na Sexta-Feira Santa em honra da Virgem Maria, e utiliza o texto do hino Stabat Mater dolorosa, que nos fala dos sofrimentos de Maria, mãe de Jesus, no momento da Crucificação, e que se pensa ter sido escrito por Jacopone da Todi, um monge Franciscano do Século XIII. 

 

Não deixa de ser curioso, que, entre as várias composições de Pergolesi, destacam-se duas peças completamente antagónicas no que respeita ao género e à intensidade dramática, a primeira, a Ópera La Serva padrona, obra cómica de carácter mundano e superficial, e a segunda, o Stabat Mater, uma obra religiosa, profunda e dramática.

 

As restantes obras do programa foram escritas por Georg Friedrich Handel e António Vivaldi, dois dos grandes compositores do barroco tardio e mesmo da História da Música. 

 

Ouviremos de Handel, músico que nasceu na Alemanha em 1685, mas que passou praticamente toda a vida em Inglaterra, onde não tinha rival no contexto da música vocal de palco, dois excertos da Oratória Messiah, talvez a mais conhecida obra da sua autoria no género em questão.

 

No programa figuram ainda peças de Il prete rosso, assim era conhecido António Vivaldi, pelo facto de ser ruivo e de ser sacerdote católico, ouviremos excertos de duas das suas obras de essência sacra – Glória, RV 589 e Dixit Dominus, RV 594.

 

O mais complexo instrumento musical construído pelo homem, é sem dúvida o Órgão, mas os aparatosos exemplares que permanecem nos templos, não podem de forma alguma ser deslocados, ficando a sua utilização restrita aos espaços religiosos. Contudo, o génio humano inventou um instrumento portátil, com o mesmo sistema de emissão sonora, mas que podia ser facilmente deslocado e assim ser utilizado em todos os contextos, religiosos ou profanos, públicos ou particulares. Neste recital, além de dois registos da voz humana, soprano e alto, ouviremos um desses instrumentos, um órgão positivo, que nalguns casos interpretará o Baixo Contínuo e noutros substituirá o Tutti da orquestra, com o qual as obras foram originalmente concebidas.

 

Pedro Rafael Costa, 2015

 

 

 

 

 

 

 

 

3ºCONCERTO | Capela de Sant’Ana, 17h00

 

Danças estilizadas dos séculos XVII e XVIII.

 

Recital de Arquialaúde e Guitarra barroca

 

 

Giovanni Zamboni Romano (c.1664-1721)

Sonata d’Intavolatura di leuto, Lucca, 1718

Sonata Nº9

Prelúdio, Allemanda, Giga, Sarabanda, Gavotta

 

Alessandro Piccinini (1566-1638)

Intavolatura di liuto et di chitarrone

Corrente prima 

 

Santiago de Murcia (1673-1739)

Los impossibles

Villanos

 

Alessandro Piccinini (1566-1638)

Intavolatura di liuto et di chitarrone

Corrente XII

Aria di Saravandain varie partite

 

Gaspar Sanz (1640-1710)

Las Hachas

 

Santiago de Murcia (1673-1739)

Folias italianas

 

Gaspar Sanz (1640-1710)

Granduque

 

Alessandro Piccinini (1566-1638)

Intavolatura di liuto et di chitarrone

Corrente XIII

 

Gaspar Sanz (1640-1710)

Canarios

 

MARIA CORREIA – ARQUIALAÚDE E GUITARRA BARROCA

 

 

NOTAS DE PROGRAMA

 

Os instrumentos musicais acompanharam a humanidade nos vários continentes desde tempos imemoriais. Encontramos a sua presença, por exemplo, nas antigas civilizações do Egipto, Índia, China, Grécia ou Mesopotâmia, encontrando-se nesta última região as Liras de Ur, talvez os mais antigos instrumentos conhecidos, datados de cerca de 2500 anos A.C. descobertas numa região situada no atual Iraque. 

 

Claro que os instrumentos que conhecemos na Europa nos últimos séculos, são substancialmente diferentes dos que existiram na Antiguidade, mas manteve-se o seu lado conceptual, isto é, no caso dos instrumentos de cordas dedilhadas, encontramos um conjunto de cordas que se tangem com os dedos ou um plectro, presas numa estrutura nos dois extremos ou numa caixa-de-ressonância.Neste recital, poderemos escutar dois dos mais importantes instrumentos de cordas dedilhadas europeus, o alaúde e a guitarra, tal como eram construídos no período barroco.

 

O alaúde terá chegado à Europa, através dos povos Árabes que se deslocavam do Norte de África para o nosso continente, sobretudo através das Penínsulas Ibérica e Itálica. Ainda hoje o instrumento é conhecido no mundo Árabe como Ud, e o seu nome ter-se-á consolidado, como acontece com tantas palavras portuguesas – Alpreade, Alcongosta, Alcântara, etc., juntando-se o artigo árabe “Al”, que significa “o”, com o nome, ficando assim Al-ud, ou seja “o Ud”, que com o passar dos séculos se tornou Alaúde.

 

O caso da guitarra é semelhante e terá sido também introduzida na Europa através da Península ibérica no período Medieval, vindo do Norte de África, trazida pelos Mouros. O seu nome deriva de Qitara em árabe, mas encontramos um termo semelhante entre os Romanos que por sua vez deriva do grego Kithara.Mas, sobretudo a partir da Renascença, o génio europeu não deixou que os dois instrumentos ficassem tal qual como chegaram ao continente. Ao longo dos séculos foram-se transformando e adaptando aos novos géneros e às novas exigências técnicas e expressivas. Assim, no período barroco, tornaram-se complexos instrumentos. Na Renascença, o alaúde tinha vulgarmente 6 a 8 ordens, ou cordas duplas, (chegara a possuir 10), mas no século XVII, esse número aumenta substancialmente, para 14, 15 ou até segundo fontes históricas, para 20, passando o instrumento a ter também dois cavaletes. Esse trabalho de inovação organológica é realizado sobretudo em Itália, e assim o liuto, passa a chamar-se arciliuto (também liuto attiorbato), que significa “grande alaúde”, tal como Bispo/Arcebispo ou Duque/Arquiduque. Em português, designa-se como Arquialaúde. Referimos ainda como curiosidade, que no período barroco existiu uma outra variante do instrumento, com afinação diferente e que teria de 11 a 13 ordens, que se vai impor no repertório solista no barroco tardio, sobretudo em França e em territórios de domínio germânico, ficando o Arquialaúde confinado quase totalmente ao desempenho do Baixo Contínuo.

 

Também a guitarra sofreu grandes alterações, mas não tão aparatosas quanto o alaúde. Conhece-se a guitarra Renascentista de 4 ordens e a Vihuela, instrumento semelhante que se utilizou na Renascença em Espanha e em Portugal, de onde deriva o termo “viola”, ainda usado em português para designar a guitarra. Já no Barroco, o instrumento é construído com 5 ordens e passa a ser em muitos casos, magnificamente ornamentado. A guitarra na sua aparência moderna, que todos tão bem conhecem, só adquiriu esse formato por volta de 1850. 

 

Quanto ao repertório do recital, será composto essencialmente por danças renascentistas ou barrocas. Mas essas danças estão nestas circunstâncias bem longe da sua função original. Oriundas sobretudo dos meios populares, são absorvidas pela tradição erudita, e embora mantendo a sua forma, são estilizadas de tal forma, que se tornam peças nobres. De música para dançar, tornam-se música para escutar.

 

Neste concerto, ouviremos obras de compositores espanhóis e italianos do período Barroco, interpretadas num Arquialaúde de 14 ordens e numa Guitarra barroca de 5 ordens.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Largo da Bica, 18h.30

 

Prova de vinhos, pelo enólogo Rodolfo Queirós

 

O homem por trás do vinho

 

 

Falar de vinho já não é o que era há uns anos atrás, não que fosse tido como uma bebida vulgar, muito pelo contrário, já os romanos veneravam o vinho e é, provavelmente, depois da água, a bebida mais importante no mundo. É sustento de muitos e está culturalmente integrada na história da humanidade. No entanto nos últimos anos o vinho começou a ser encarado de modo mais especial, seja pelos consumidores, seja pelos produtores. O vinho é um dos motores económicos mais importantes do país que não vê apenas o vinho do Porto como a pérola vínica nacional, estando a apostar fortemente noutros vinhos, e Portugal é riquíssimo é bons vinhos, todos com personalidades diferentes. Provavelmente o vinho será o melhor representante da alma das gentes lusas, cada região tem o seu clima diferenciador, tem culturas e costumes diferentes, comidas e pronúncias singulares, assim como os vinhos que produzem.

 

Se nos últimos anos Portugal tem surgido nos mercados internacionais com vinhos notáveis, arrecadando prémios nos certames mais importantes a nível mundial não é por acaso, a grande responsabilidade do sucesso dos nossos vinhos, e o facto de serem vários a conquistar o estrangeiro é, não apenas dos produtores e do aperfeiçoamento dos métodos, mas também dos enólogos e da sua paixão pelo vinho e pelas suas vicissitudes.

 

Enologia é a ciência que estuda tudo o que está relacionado com a produção e conservação de vinho1 , desde o plantio, escolha do solo, vindima, produção, envelhecimento, engarrafamento e venda e o Enólogo é a pessoa por trás desses processos. É na sua sensibilidade que está o segredo dos bons vinhos.

 

Há uns 15 anos atrás a região das beiras era conhecida pela sua gastronomia mas não pelos seus vinhos, tidos como vulgares, muito por falta de conhecimento das exigências do mercado. E foi há cerca de década e meia que Rodolfo Queirós desceu das regiões do vinho verde para a altitude da Serra da Estrela, animado por um amigo lá se aventurou e acabou por se apaixonar pela região e pelas oportunidades de desenvolvimento profissional que aqui 

encontrou. Não havia grande tradição vínica na região e os produtores era poucos. Durante cerca de uma década Rodolfo foi descobrindo os segredos da região e da natureza singular destas terras e ajudou a que se desenvolvessem vinhos que hoje são cartão de visita da região, tanto a nível nacional como além-fronteiras.

 

Desde jovem que Rodolfo Queirós sabia que queria construir uma carreira relacionada com o vinho e, após um desvio temporário e até mais rentável monetariamente, decidiu dar ouvidos ao coração e abraçar a oportunidade de trabalhar naquilo que sempre quis, na construção de bons vinhos. Reconhecendo a importância vital que um enólogo tem na criação de um vinho, Rodolfo mantem-se humilde quando fala da sua profissão, vincando sempre o papel fundamental do produtor no processo, mas admitindo que a arte é daquele que trabalha com paixão, gosto e com horizontes abertos.

 

Ao longo destes anos em que apostou na elevação dos vinhos das Beiras, trabalhando com produtores e Associações, Rodolfo Queirós teve a oportunidade de assistir ao desenvolvimento da área vitivinícola na região, com o crescimento dos produtores a ser notório e a qualidade das produções a ser atrativo para que grandes produtores de outras regiões reconheçam o potencial da região e apostem aqui, fazendo com que a economia se desenvolva ao ponto de se estar a tornar numa das peças mais importantes do desenvolvimento socioeconómico da região, até porque o vinho atrai gente e proporciona o crescimento de outras áreas como o turismo ou a restauração.

 

“Esta é uma região com características únicas e temos de saber tomar partido disso”, afirma o Enólogo que me conta que as Beiras é um dos locais privilegiados para a produção Biológica por causa das suas características geográficas e climáticas, “este tipo de cultura está na moda, temos de tomar partido disse”, refere. Entremos então na moda e apostemos nas nossas culturas. Não tenhamos medo de encarar o vinho com paixão e fazer dele uma bandeira da região, adotando o vinho como um dos cartões-de-visita da nossa cultura no estrangeiro. “Neste momento estamos a exportar cerca de 1 milhão de garrafas para o estrangeiro” conta Rodolfo, o vinho assume, assim, um peso brutal na economia regional, e cabe também às pessoas valorizarem os seus produtos. Rodolfo conta que fica aborrecido 

quando chega a um restaurante da região e lhe oferecem vinhos Alentejanos, “temos de dar valor ao que temos e mostrar esses produtos porque há gente de fora a visitar a região e devemos dar a conhecer o que é nosso, e há mais do que queijo para mostrar”. Dou-lhe toda a razão, aliás, na nossa conversa, Rodolfo dizia-me que está determinado em terminar com um dos preconceitos que a nossa sociedade tem em relação ao vinho e à comida, “o vinho verde não é só para acompanhar o peixe ou o tinto ideal para acompanhar carne, há vinhos tintos que casam muito bem com o peixe e as pessoas têm de abrir os seus horizontes”! 

 

Demonstrar isso mesmo é um dos seus objetivos quando dá formação. Mas a mentalidade do consumidor está a mudar, uma das grandes alterações no comportamento está, por exemplo, no facto de as mulheres, que tradicionalmente estavam afastadas do mundo do vinho, começam a despertar o interesse para o universo vínico, sendo presença assídua nas formações dadas pelo enólogo que enaltece essa realidade.

 

O vinho é um ser mutável, está em constante mutação mesmo depois de engarrafado, muda com o passar do tempo e é caprichoso, daí que Rodolfo Queirós admita ser impossível definir o que seria, para si, o vinho perfeito, “o vinho é um desafio constante e o que interessa é despertar os sentidos, o vinho perfeito é aquele que é feito para ser partilhado, aliás é a única bebida que só faz sentido se for partilhada”.

 

In http://heartbeat.pt/o-homem-por-tras-do-vinho/ | 18 Maio 2015

 

 

 

 

 

 

 

4ºCONCERTO | Jardins da Quinta do Ouriço, 22h00 (*)

 

Martyria

 

Concerto performativo em torno do Ciclo de Cantatas Membra Jesu 

nostri patientis sanctissima, BuxWV 75, de Dietrich Buxtehude (1637-1707)

 

(Espetáculo de Música, Dança e Multimédia) 

 

 

PROGRAMA 

 

Dietrich Buxtehude (c.1637-1707)

Membra Jesu nostri, BuxWV 75

I. Ad pedes

II. Ad genua

III. Ad manus

IV. Ad latus

V. Ad pectus

VI. Ad cor

VII. Ad faciem

 

Les Secrets des Roys

Cantores

SUSANA QUARESMA – SOPRANO I

MARA MARQUES – SOPRANO II

HELENA ROMÃO – MEIO-SOPRANO

RUI OLIVEIRA – TENOR

PEDRO MORGADO – BAIXO

 

Instrumentistas

DENYS STETSENKO – VIOLINO I

ROSA SÁ – VIOLINO II

SUSANA MOODY – VIOLA DA GAMBA

DIANA MATOS – ALAÚDE

SÉRGIO SILVA – ORGÃO POSITIVO

 

Dança

MARIA CARVALHO - BAILARINA

 

Designer Multimédia

LYDIA NETO

 

Direção de Cena

RUBEN SAINTS

 

 

NOTAS DE PROGRAMA

 

Ao observarmos o vasto espólio musical europeu, percebemos claramente que os episódios bíblicos que mais impressionaram os compositores ao longo dos séculos, foram os da Paixão e da Crucificação de Jesus, com destaque para as suas lutas e sofrimentos interiores e exteriores, bem como dos demais personagens que intervêm nesses momentos da Semana Santa, entre os quais a sua mãe, Maria, mas também Maria Madalena e Pedro, um dos seus discípulos. 

 

No final da Renascença, com o surgimento dos primeiros Drammi per musica, que viríamos a designar mais tarde como Óperas, esses momentos bíblicos viriam a ganhar cada vez mais relevo, uma vez que esses episódios dramáticos se adequam perfeitamente ao que os compositores procuravam exprimir musicalmente. Como no seio da Igreja os temas mundanos, comuns nas Óperas, não podiam ser abordados, vemos nascer, também na aurora do século XVII, o género Oratória, que podemos definir como Una Opera Sacra, isto é, o mesmo conceito da Ópera, mas com uma temática religiosa. Na marcha implacável dos anos, paralelamente à música puramente litúrgica, como as Missas, Salmos, Etc., outros géneros de essência sacra vão surgir no panorama religioso, como por exemplo, as elaboradas e dramáticas Oratórias da Paixão, bem como um variado género de Motetes e Cantatas, que vão adquirir ou não, um lugar na liturgia cristã. 

 

A obra interpretada neste concerto, Membra Jesu nostri, é um ciclo de Cantatas escrito por Dietrich Buxtehude, um dos principais organistas do Norte da Alemanha do século XVII. Foi escrita a partir de um texto medieval, Salve mundi salutare, que se pensa ser da autoria de Arnulf von Leuven, um dos numerosos teólogos cristãos da Idade Média. O poema, utilizado magistralmente por Buxtehude, centra-se nos momentos finais da Paixão e representa uma meditação sobre os sofrimentos, e, em particular, sobre as dores de Jesus nas diferentes partes do corpo atingidas no decorrer da Crucificação.

 

Teremos assim diversas expressões artísticas, reunidas de forma magistral num mesmo concerto. Uma bailarina, um conjunto de cantores e instrumentistas, uma Designer multimédia e um encenador, propõem-nos Martyria, um espetáculo performativo onde o movimento, a dança, a música e a imagem estarão unidos harmoniosamente, tendo como pano de fundo a magnífica obra de Dietrich Buxtehude e a tranquila noite de Castelo Novo.

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