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Domingo, 26 de julho

 

Antiga Escola Primária de Castelo Novo, 10h00

Já cantam os galos

 

Ateliê para crianças a partir dos 5 anos, orientado por Susana Quaresma e Diana Matos

Ateliê de Interpretação de música antiga através do canto e do movimento 

 

 

Neste ateliê, pretende-se ensinar às crianças um pouco do repertório da música antiga que se tem vindo a escutar no decorrer das primeiras edições do Festival.

Através do movimento, as crianças aprenderão 1 ou 2 músicas, que serão apresentadas após o último concerto do Festival.

 

 (*) Gratuito. Inscrições são obrigatórias e podem fazer-se no Posto de Turismo de Castelo Novo até às 10h00 do dia 26 de julho.

 

Ya cantan los gallos

Ya cantan los gallos,

amor mío, y vete:

cata que amanece.

Vete, alma mía,

más tarde no esperes,

no descubra el día

los nuestros placeres.

Cata que los gallos,

según me parece,

dicen que amanece.

 

Anónimo

 (Seculo XV)

 

 

 

 

 

 

 

 

Igreja Matriz de Castelo Novo, 11h00

 

Celebração da Palavra em Castelo Novo

 

 

Entrada

Henry Purcell (1659-1695)

Love, love sweet love

 

Ato Penitencial

Manuel Rodrigues Coelho (c.1555-1635)

Cinco Kyrios do primeiro Tom - alternância com o Cantochão

 

Glória

Frei Manuel Cardoso (1566-1650)

Toni pelegrini

 

Salmo

Diogo Dias Melgás (1638-1700)

O vos omnes

 

Aclamação

João Rodrigues Esteves (1700-1751)

Regina coeli, Aleluia

 

Ofertório

Johann Sebastian Bach (1685-1750)

O Jesulein süss

 

Final

Giuseppe Carcani (c.1703-1779)

Qui tollis

 

SARA AFONSO – SOPRANO

DANIEL OLIVEIRA – ÓRGÃO

 

 

NOTAS DE PROGRAMA

 

A música europeia, provavelmente nunca chegaria a um tão elevado grau de refinação artística, como o que atingiu no mundo moderno, se não tivesse sido cultivada e desenvolvida nas várias instituições religiosas do nosso continente, em particular na Igreja Católica e nas numerosas Ordens a ela associadas que surgiram na passagem dos séculos.

 

É claro que a Música esteve sempre associada ao ser humano, é uma tendência, que diríamos, inata, e que nos foi dada pela própria Natureza. Assim, o canto e os instrumentos musicais marcaram presença em toda a História da humanidade e no último milénio, podemos distinguir três vertentes iniciais da prática musical na Europa.

 

Em primeiro lugar, surge no contexto popular, entre o povo, como a designação sugere, com música de tradição oral que desconhecemos na maioria, devido ao facto de não serem notadas e assim se perderem na passagem imperturbável do tempo. Algumas dessas peças, maioritariamente muito simples, foram utilizadas ao longo da História pelos compositores da música erudita, foram escritas e assim conseguimos obter laivos das suas características, por vezes bastantes remotas.

 

No meio aristocrático, surge uma poesia cantada, normalmente em forma de monodia, isto é, apenas uma melodia, que podia ser acompanhada ou não por um instrumento, embora se desconheçam muitos pormenores sobre tais práticas. Essa tradição vai atingir níveis de desenvolvimento mais elevados na música profana, vocal e instrumental, primeiro nos trovadores da Idade Média e mais tarde, sobretudo nos meios aristocratas e burgueses. 

 

Ao mesmo tempo, surge a música litúrgica, que se vai desenvolver no seio das instituições religiosas. Se no contexto popular e aristocrático são raras as formas de notação musical ou de tentativas de sistematização da teoria e prática musicais, já nos meios religiosos, esse trabalho desenvolve-se intensamente na passagem dos séculos. Inicialmente também as obras musicais religiosas eram apenas monodias, sem qualquer acompanhamento, como no apelidado Canto Gregoriano, contudo, os devotos vão conduzir a música litúrgica a elevados níveis de complexidade melódica e harmónica.

 

Foi na Catedral de Notre Dame de Paris, que a partir da segunda metade do século XII, se desenvolve o primeiro e o mais importante foco de trabalho na teoria e prática musical da História da Europa. Embora tivessem existido antes e na mesma altura diversas obras teóricas, terá mesmo sido na Capital francesa que se começaram a escrever as primeiras obras polifónicas, bem como as primeiras grandes tentativas de sistematização da teoria musical, e segundo se pensa, onde surgem as primeiras figuras de notação rítmica. Assim, a partir deste centro florescente, as novas ideias propagam-se rapidamente, primeiro pelas igrejas de França, e em seguida por toda a Europa. Nos séculos que se seguem, assistimos assim ao despoletar da esplendorosa polifonia renascentista.

 

Já a partir de finais do século XVI, no início do período que viríamos a apelidar de barroco, os géneros musicais vão alargar-se substancialmente e o esplendor teórico e prático que era quase totalmente votado ou inspirado pelo sublime, pela Harmonia das Esferas, no domínio do sagrado, com um repertório sobretudo cantado, passa a ser integrado também nos meios profanos, desenvolvendo-se a partir de então numerosas formas musicais, com um importante aumento da prática puramente instrumental, que se afasta assim dos modelos polifónicos renascentistas.

 

Mas esta generalização da prática musical a todos os segmentos da sociedade, veio também enriquecer a música no contexto litúrgico, que passa a integrar no seu seio não só a tradição que adquirira ao longo dos séculos, mas também numerosos elementos dos géneros profanos, e profano aqui sem qualquer sentido pejorativo, apenas o oposto aos géneros sacros, passando também, os instrumentos musicais a fazerem parte do dispositivo vocal e instrumental, com o objetivo de louvar o Eterno, Soli Dei gloria, escreviam frequentemente no frontispício das suas partituras, Johann Sebastian Bach, Joseph Haydn, e tantos outros através da já longa História da Música europeia.

 

Neste concerto ouviremos obras de compositores de várias épocas, agrupadas de forma a simular a estrutura da cerimónia litúrgica apelidada de Celebração da palavra.

 

 

 

 

 

 

 

Igreja Matriz, 15h00 | Concerto de encerramento

 

Música do período Galante II

Música ibérica e suas influências na segunda metade do século XVIII

 

 

 

Nicollò Jommelli (1714-1774)

Sonata à tré con due flauto traverse e basso, (1751)

Sonata Nº7 em sol maior

Non presto

Adagio

Allegro

 

Joan Baptista Pla (c.1720-1773)

Sonata Nº2 en ré menor para dos flautas (o violines o oboe) y bajo, (c.1770)

Allegro

Andante Largo

Allegro

 

Josep Pla (1728-1762)

Sonata Nº5 en sol mayor para dos flautas (o violines o oboe) y bajo, (c.1760)

Allegro

Andante

Allegro

 

Pedro António Avondano (1714-1782)

Trio Nº1 em ré maior, (c.1766)

Allegro

Andante

Allegro

 

Pedro António Avondano (1714-1782)

Lisbon Minuets for two flutes and bass, (Londres c.1766)

Seis Minuetos

 

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788)

12 Kleine Stücke

Menuet I e II – Polonoise – Presto – Allegro – Allegro – Presto – Allegro – Allegretto - Allegro assai – Andantino - Andantino

 

 

ENSEMBLE ARS IBERICA

 

OLAVO TENGNER BARROS – TRAVERSO E DIREÇÃO ARTÍSTICA

ALEXANDRE ANDRADE – TRAVERSO

SOFIA NEREIDE PINTO – CRAVO

INÊS COELHO – ESPERANZA RAMA

 

NOTAS DE PROGRAMA

 

Neste segundo concerto do ciclo “Música do Período Galante”, serão ouvidas obras de compositores ibéricos que sofreram múltiplas influências europeias, sobretudo italianas, nessa segunda metade do século XVIII. Ouviremos peças dos irmãos catalães Joan e Josep Pla, do português Pedro António Avondano, e ainda de dois influentes compositores da época, o italiano Nicollò Jommelli, e o alemão Carl Philipp Emanuel Bach.

 

O estilo Galante ou Rococó floresceu num curto período de tempo, mas apresenta características muito peculiares e é considerado normalmente como a transição do Barroco para o Classicismo. Surge por volta de 1740, sendo cultivadoessencialmente, por compositores nascidos no início do século e vai atingir o ponto culminante na década de 1770. O estilo galante desponta sobretudo nos meios burgueses, como uma simplificação da linguagem musical, procurando-se então a clareza e a leveza da melodia em detrimento do contraponto e da complexidade harmónica que se atingira no barroco tardio. Escreviam-se melodias emotivas, dramáticas, simples mas ornamentadas, que pudessem tocar em particular o lado sentimental do ouvinte e não apenas o intelecto, complexo por natureza. Mas não se pense que isto significa que a música dessa época era mais simples ou ligeira do que a precedente. Não, apenas os conceitos e os interesses mudaram, procuravam-se outros ideais artísticos, que conduzirão ao aparecimento do período que designamos como Clássico. 

 

Este segundo concerto inicia-se com uma sonata de Nicollò Jommelli, um prolífico compositor italiano, que se destacou na música de essência vocal, com numerosas obras sacras, e um conjunto impressionante de cerca de 80 Óperas. Este ilustre quase desconhecido nos nossos dias, foi um influente compositor na época em que viveu. Sabemos que D. José I, rei de Portugal, terá tentado contratar o italiano, mas este optou pela corte do Duque de Württenberg em Estugarda. No entanto, D. José conseguiu um acordo com o músico, celebrado em 1769, visando a adaptação e cedência de obras da sua autoria, que poderiam ser interpretadas no nosso país. 

Dessa forma, muitas partituras de Jommelli, algumas delas, exemplares únicos, estão presentes na magnífica biblioteca da Ajuda. Apesar de a sua produção musical ser maioritariamente vocal, escreveu também peças instrumentais, como o conjunto de Sonatas em Trio, publicado em Londres em 1751, do qual escutaremos a Sonata Nº7 em sol maior.

 

Os irmãos catalães Joan Baptista e Josep Pla, são um bom exemplo dos intérpretes virtuoses que no século XVIII, viajavam por numerosos países europeus em busca de um cargo que lhes desse estabilidade profissional, e consequentemente financeira. Virtuoses do oboé, mas também da flauta, como sucedia frequentemente na época, os dois irmãos surgem sempre juntos em numerosas localidades europeias, e mesmo as suas obras eram publicadas em conjunto, por isso, em muitos casos, não sabemos ao certo quem foi verdadeiramente o autor. 

 

Na década de 1760, e após uma passagem pela corte do Duque de Württenberg, onde o já citado Nicollò Jommelli era o Kapellmeister, Joan Baptista Pla, após a morte do irmão, instala-se em Lisboa, sendo um dos músicos da Orquestra Real até 1773, ano em que perdemos o seu traço.

 

No reinado de D. João V, foram contratados numerosos músicos estrangeiros, sobretudo italianos, para as várias instituições musicais ligadas à coroa portuguesa.

 

Um desses músicos, foi o violinista genovês Pietro Giorgio Avondano, cujo filho, Pedro António Avondano, se tornou um destacado compositor e violinista da Real Orquestra de Câmara de Lisboa. As suas três coleções de Minuetes, publicados em Londres entre 1765 e 1770, os Lisbon Minuets, terão sido escritos para as numerosas reuniões que organizava sob o nome de Assembleia das Nações Estrangeiras, onde reunia um conjunto de personalidades, figurando os estrangeiros, sobretudo ingleses, residentes em Portugal. Ouviremos ainda de Avondano, uma Sonata originalmente escrita para dois violinos, aqui adaptadas para o dispositivo instrumental do agrupamento, dois Traversos e Baixo Contínuo.

 

A concluir o programa, ouviremos uma obra de Carl Philipp Emanuel Bach, um dos filhos de Johann Sebastian, e uma das grandes figuras da música no século XVIII.

 

Pedro Rafael Costa, 2015

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